Je suis Charlie
Terrorismo. Por definição é o ato de provocar terror nas pessoas através do uso da violência física ou psicológica, com o intuito de intimidar uma sociedade e impingir ideologias .
Não me lembro ao certo quando ouvi o termo pela primeira vez mas lembro-me exatamente como me senti, como quando achamos que acidentalmente falhamos uma escada e a na nossa barriga cresce o friozinho que antecipa a queda. Com o tempo a palavra tornou-se tão usual mas continua a causar-me o mesmo sentimento, afinal não importa quantas vezes falhemos uma escada ficamos sempre assustados com a dor que pode vir a seguir.
Dia 15 de janeiro de 2015, estava doente, deitada no sofá quando nas notícias começaram a aparecer imagens chocantes. Charlie tinha sido assassinado simplesmente porque tinha usado o direito de expressão para fazer um cartoon da religião Islâmica. O mundo chocou-se e todos nós fomos Charlie, todos nós sentimos a dor de Charlie, todos nós sofremos uma espécie de luto não muito doloroso que durou uns dias. Com o tempo Charlie deixou de ser importante e nós por consequência deixamos de ser Charlie.
13 de novembro de 2015, estava a jantar com os meus pais quando um barulho alarmante veio da televisão da sala e todos fomos ver o que se passava. O terror espalhado nos olhos de quem contava as notícias. Outro atentado em França, desta vez no teatro do Bataclan. O mundo chorou com Paris e todos nós fomos Paris, porque as vítimas não mereciam morrer e a vida humana é demasiado preciosa. Milhares de flores espalharam-se pelo chão das ruas onde inocentes foram mortos, lágrimas derramadas, indignação. E depois, pouco a pouco, Paris deixou de ser o título da primeira página do jornal e todos nós a pouco e pouco deixamos também de ser Paris.
A seguir a estes atentados muitos outros se seguiram, alguns grandes outros mais pequenos mas todos imensamente chocantes e devastadores para a integridade humana.
No entanto maior parte de nós tem memória curta. Quando é que foi a última vez que algum de nós pensou sobre Paris? Sobre Bruxelas? Sobre Charlie? Sobre as Torres Gêmeas?
Porque é que só pensamos nas coisas no momento imediato em que nos afetam e não a seguir? Será que lembrar a vida humana tem data de validade?
A verdade é que não sei, mas, passe o tempo que passar uma parte de mim vai sempre ser Charlie. Uma parte de mim vai sempre ser Paris. Uma parte de mim vai sempre ser Bruxelas.
Na minha opinião nunca se está fora do prazo para se lembrar algo que nunca devia ter acontecido.