Debaixo da Torre Eiffel
Costumam dizer que para ver o mundo temos de subir a um ponto alto, temos de ver as luzinhas lá em baixo a piscar, a vida das pessoas a correr debaixo dos nossos pés. Temos de nos sentir pequenos.
Em Junho subi à Torre Eiffel, presenciei a sensação incrível de me sentir o ser humano mais pequenino do mundo mas não aprendi nada sobre o mundo, não aprendi nada sobre a vida,a vista do pôr do sol sobre a cidade da luz foi linda mas isso não me foi suficiente para sentir o infinito.
Acho que quem diz que se vê o mundo com mais claridade do topo da Torre Eiffel nunca a desceu de verdade, nunca sentiu o vento quente de julho a bater-nos na cara enquanto corremos escada abaixo a olhar a cidade nos olhos por entre os buraquinhos metálicos.
Quem diz que se vê o mundo com mais claridade do topo da Torre Eiffel nunca decidiu parar a meio da descida para apanhar o folgo e admirou as cores de azul do céu a misturarem-se com adrenalina presa no nosso coração.
A verdade é que não percebia nada sobre o mundo até descer a Torre Eiffel, até chegar por fim ao fundo das escadas e me deitar debaixo dela.
Ali, deitada debaixo da Dama de Ferro, com o chão de cimento ainda quente a bater-me na minha pele fria percebi melhor a vida do que algum dia a tinha percebido. Ali deitada, debaixo do sítio ao qual milhões de pessoas subiram, a ouvir os passos de centenas de pessoas a ecoar nos meus ouvidos, senti paz. Não o tipo de paz momentânea que dura apenas alguns segundos para desaparecer logo a seguir mas sim a calma que se instala devagarinho no nosso coração e permanece durante muito tempo.
Ali, no coração de Paris senti como se o mundo e eu estivéssemos a dialogar, percebi que talvez os dias cinzentos não vão ficar para sempre, percebi que a paz existe algures num lugar deste mundo e sentia na ponta dos dedos como algo palpável.
Todos nós temos a nossa Torre Eiffel, a nossa seta que mostra que afinal de contas existe uma luz ao fundo do túnel.
Foi ali, debaixo da Torre Eiffel que percebi aquilo que muitos apenas descobrem quando a sobem.