O meu avô
O meu avô era um senhor bonito e engraçado, com as mãos enrugadas e os olhos mais bonitos que algum dia vi. Pareciam o mar num dia bonito, tão azuis que tinha medo de me afogar neles.
O meu avô levava-me em aventuras, juntos embarcávamos na viagem na sala da minha avó, deitados no pedacinho de chão que não estava ocupado por sofás e móveis, agarravamo-nos um ao outro e ele sussurrava-me histórias. Era sempre eu a primeira a embarcar na aventura do sonho, mas ele seguia-me e durante uma hora navegávamos juntos, bem agarradinhos, para não nos perdermos um do outro.
Gostava de pássaros e de pessegueiros, tinha-os no seu quintal.Guardava os pássaros e todos os dias cuidava deles como filhos, deixava-os crescer, e depois deixava-os voar.
O meu avô morreu quando eu tinha 8 anos, mas antes disso ensinou-me a ser tudo o que sou hoje, a ser humana. Ainda me lembro de passear na rua com ele pela mão, tracinhas no cabelo e de me sentir a menina mais sortuda do mundo porque comigo caminhava o senhor António. O senhor António era o António da farmácia para muitos, o "senhor que vem cá às três da manhã quando a mamã está doente" para alguns, um médico na guerra colonial para os que lêem livros de história, o senhor que empresta dinheiro, dá comida, está pronto a dar uma mão amiga, para outros. Mas, para mim o Senhor António era só o meu avô.
Não era um herói, nem era perfeito, também me fazia chorar quando me portava mal, também discutia com a minha avó, também era teimoso que nem uma mula, mas o meu avô era um homem bom, dos melhores que algum dia conheci, e os homens bons devem ser recordados. Por isso lembremos hoje, todos os homens bons que um dia fizeram surgir estrelas nos nossos olhos, sorrisos nos nossos lábios, bondade no coração e que, nos ensinaram, quão bom é sonhar.