As marcas que deixamos na vida das outras pessoas
Ontem estava a ouvir a música Everybody Lost Somebody dos Bleachers e a mensagem chegou até mim com toda a sua força. Todos nós já perdemos alguém, talvez porque esse alguém morreu ou talvez porque a vida se pôs no caminho, já todos experimentamos a dor de ver alguém de quem gostávamos muito desaparecer da nossa vida, e se calhar é mesmo isso que nos conecta a todos, o facto de ser uma experiência universal.
No entanto dei por mim a pensar que todas as pessoas que apareceram na minha vida e depois desapareceram (para sempre ou temporariamente) me deixaram qualquer coisa. Memórias talvez, e evidências de que passaram na nossa vida. Fósseis dos dias que passamos juntas.
Algumas coisas que nos deixam são grandes como a crença que me deixou o meu avô (de quem já vos falei aqui) de que nenhum ser humano é intrinsecamente mau, e de que toda a gente merece uma mão amiga.
E outras coisas são muito pequenas, pequenos hábitos enraizados na nossa rotina. O facto de acenar a mim mesma quando passo por um espelho (algo que "aprendi" de uma pessoa que amei muito), o facto de deixar sempre pequenas anotações nos meus livros (um amigo da minha escola primária fazia isto, e sempre achei piada), o facto de quando quero dizer a alguém que gosto deles sem usar palavras, fechar com força os olhos durante uns segundos e sorrir (os gatos fazem isto para dizer que gostam dos donos, e tornou-se uma piada entre mim e uma amiga), o facto de por um bocadinho de leite no meu chá (a minha avó achava que era algo de gente fina fazer isto).
Somos as marcas que deixamos na vida das pessoas. E é bom pensar que hoje sou uma pessoa diferente porque fui também marcada por tanta gente, por tantas vidas que cruzaram o meu caminho.
Marcamo-nos uns aos outros permanentemente. Algumas marcas são fortes e permanecem e outras desvanecem com o tempo. Espero um dia poder olhar para trás e dizer que manchei a vida de muita gente e a tornei, um bocadinho mais colorida.