A poesia e eu
Gosto de poesia, particularmente daquela que não rima e quase que parece prosa, mas não é. Aquelas estrofes que têm a habilidade de se mascararem como poemas mas que na verdade são pura magia na forma de letras impressas num papel.
Admito porém que ler poesia é uma arte da qual não sou mestre. Os meus olhos juntam as letras, e depois as palavras e encontro a cadência perfeita com que cada verso segue o próximo, mas mesmo assim, por mais que repita a poesia, não consigo encontrar o seu significado. Talvez porque ainda não vivi vida o suficiente para que consiga perceber o seu sentido, ou talvez porque a poesia é feita assim, dificilmente bela.
No entanto, sempre que leio um poema, ao mesmo tempo que o meu cérebro confuso se agita, sinto o meu coração a fugir-me do peito. Como se a poesia fosse o hélio que o abastecesse. Por vezes o meu coração viaja até ao meu estômago que se sente arrebatado, por outras voa até aos meus olhos para os deixar humedecidos.
Eu e a poesia somos assim, não a compreendo na sua totalidade, mas sinto-a em todas as suas formas.
(abaixo fica um dos poemas que fez o meu coração fugir do peito)
"Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo"
- Jorge Luis Borges