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The art of living

20
Fev21

As marcas que deixamos na vida das outras pessoas

Mafalda

Ontem estava a ouvir a música Everybody Lost Somebody dos Bleachers e a mensagem chegou até mim com toda a sua força. Todos nós já perdemos alguém, talvez porque esse alguém morreu ou talvez porque a vida se pôs no caminho, já todos experimentamos a dor de ver alguém de quem gostávamos muito desaparecer da nossa vida, e se calhar é mesmo isso que nos conecta a todos, o facto de ser uma experiência universal.

No entanto dei por mim a pensar que todas as pessoas que apareceram na minha vida e depois desapareceram (para sempre ou temporariamente) me deixaram qualquer coisa. Memórias talvez, e evidências de que passaram na nossa vida. Fósseis dos dias que passamos juntas.

Algumas coisas que nos deixam são grandes como a crença que me deixou o meu avô (de quem já vos falei aqui) de que nenhum ser humano é intrinsecamente mau, e de que toda a gente merece uma mão amiga.

E outras coisas são muito pequenas, pequenos hábitos enraizados na nossa rotina. O facto de acenar a mim mesma quando passo por um espelho (algo que "aprendi" de uma pessoa que amei muito), o facto de deixar sempre pequenas anotações nos meus livros (um amigo da minha escola primária fazia isto, e sempre achei piada), o facto de quando quero dizer a alguém que gosto deles sem usar palavras, fechar com força os olhos durante uns segundos e sorrir (os gatos fazem isto para dizer que gostam dos donos, e tornou-se uma piada entre mim e uma amiga), o facto de por um bocadinho de leite no meu chá (a minha avó achava que era algo de gente fina fazer isto).

Somos as marcas que deixamos na vida das pessoas. E é bom pensar que hoje sou uma pessoa diferente porque fui também marcada por tanta gente, por tantas vidas que cruzaram o meu caminho. 

Marcamo-nos uns aos outros permanentemente. Algumas marcas são fortes e permanecem e outras desvanecem com o tempo. Espero um dia poder olhar para trás e dizer que manchei a vida de muita gente e a tornei, um bocadinho mais colorida.

 

 

 

08
Fev21

O confinamento e a depressão #2

Mafalda

Falei-vos, no principio deste confinamento, da minha depressão sazonal e da forma como o confinamento a torna pior. Ao longo das últimas semanas tenho vindo a tentar diversas estratégias para me sentir melhor, e decidi partilhar as minhas favoritas:

 

Ir lá fora (faça chuva ou faça sol)

Para uma pessoa que sofre de depressão sazonal esta dica pode parecer óbvia, mas não o era para mim. Tentava evitar o exterior nos dias de chuva ou naqueles mais nublados. Sendo a chuva e o tempo escuro aquilo que me causam tristeza, achei que "afastar-me" deles ficando em casa era o que faz sentido. Mas não é verdade. O ar fresco faz maravilhas e mudar de paisagem, quando estamos constantemente fechados num espaço tão pequeno, também o faz. Tento procurar a altura do dia com menos chuva (ou com abertas), agasalho-me bem e lá vou eu para uma voltinha. Nem sempre volto de melhor humor, mas tenho a certeza que se ficasse em casa seria bastante pior.

 

Exercício físico

Correr traz paz ao meu coração. É a altura do dia em que me permito não pensar em nada (porque também é preciso), e há o sentimento de recompensa no final da corrida, que nos chega na forma de suor, o coração a bater muito rápido no nosso peito, os pulmões a pedir por mais ar.  Sinto-me viva. No entanto não é preciso correr para obter o mesmo resultado, e por vezes o exercício nem sequer precisa de ser tão intenso. Nos dias em que sou preguiçosa 15 minutos de alongamentos bastam para me sentir um bocadinho melhor.

 

Dançar

Queria ser bailarina quando era pequena, mas nunca fui dotada na arte da dança e por isso nunca o fiz muito. Enquanto conversava com a minha psicóloga ela sugeriu-me que o fizesse, sempre que me sentisse muito em baixo, por mais que só me apetece-se atirar a toalha para o chão e desistir, e esta tornou-se muito facilmente a minha maneira favorita de lidar com as adversidades. Criei uma playlist com músicas animadas, que me dão vontade de saltar da cadeira e mexer o meu corpo. Não faço mais do que uma série de movimentos estranhos (não sei bem se posso considerar que danço) e uns rodopios, mas resulta sempre! No final dos 3/4 minutos que dura a música apetece-me sempre rir, mais não seja pela figura ridícula que fiz.

 

Música

A playlist que uso para dançar é a mesma que uso quando tenho momentos "mortos" como quando estou a cozinhar. Não importa o meu estado de espírito ponho-a a tocar. Para ser sincera já chorei ao som de músicas muito alegres, por isso esta nem sempre é a melhor para lidar com a tristeza. Mas considero-a uma medida preventiva. Quando ainda não estou triste, uso-a para espantar quaisquer sentimentos negativos que poderiam evoluir para ela.

 

Comida

Esta requer alguma pesquisa, e não sei ainda se estão a surtir efeitos ou não, mas visto que tenho estado consideravelmente melhor decidi incluí-la. A comida aconchega-nos a alma, e aparentemente as vitaminas que contem, podem causar mudanças a nível do humor. Por isso tenho investido em alimentos ricos em vitamina C, como as laranjas e as cenouras, que é conhecida por melhorar o humor,  e vitamina D cujo défice pode resultar também na depressão sazonal.

 

 

 

 

 

29
Jan21

A arte de aceitar

Mafalda

Tive a minha primeira entrevista na terça-feira. A ansiedade tomou conta de mim nas horas que a precederam mas quando dei por isso já tinha acabado, e correu melhor do que esperava.

Ao longo da entrevista, que decorreu quase como uma conversa e não como uma série de perguntas e respostas, a minha entrevistadora disse-me que em mim se notava uma grande capacidade de aceitar aquilo que não posso mudar.

Quis rir-me, mas não o fiz, revelei-lhe que era algo em que tenho estado a trabalhar, no entanto ainda não sou mestre da arte de aceitar.

Tenho reparado ultimamente que tudo aquilo que não posso controlar,  me deixa pouco à vontade e quase que assustada. Mas reparei que a vida é também composta por tantas coisas que não posso controlar, que a algum ponto vou ter de aprender a coexistir com elas. Assim, tenho trabalhado nisso todos os dias, ainda não fiz muitos progressos, mas o importante é começar.

Têm alguma dica para mim?

 

25
Jan21

O que fica depois do adeus

Mafalda

Não sabia que te estava a beijar pela última vez naquele dia frio de Janeiro, nem sabia que seria a última vez que poderia segurar a tua mão dentro da minha e sentir o seu calor. Talvez se soubesse tivesse permanecido naquilo que restava do nosso amor durante mais tempo. Talvez me tivesse demorado mais um segundo nos teus lábios, mais uns minutos nos teus braços.

Agora pergunto-me o que fica depois do adeus. O que é que sobra de nós mesmos quando aquilo que amamos com todo o nosso ser deixa de ser nosso.

Restam-nos as memórias daquilo que podia ter sido um amor para a vida toda e as dúvidas que nos assombram perguntando o que é que falhou para que assim fosse. Ficam connosco pedaços de vida, outrora reconfortantes, mas que com o tempo se transformaram em objectos cortantes.

Não sei bem quem sou agora que partiste, mas sei que durante um breve momento tivemos o amor do qual só ouvimos falar nos filmes ou livros.

Talvez seja isso que fica depois do adeus. A certeza que as grandes histórias de amor, às vezes, também acabam.

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